Estamos no cimo da falésia entre pinheiros e urzes, camarinheiras e insectos errantes que voltejam sobre nós, desde sempre, eles, o sol que cintila ao longe nas águas álgidas agitadas pelo vento que sopra forte de Sudoeste, que é de onde vem sempre a tempestade.
Um homem e uma mulher, como desde o principio, ou de como nos quiseram fazer crer que foi o principio e que tendo sido como o afirmaram, então toda a condenação do presente foi embutida na génese, pais copularam com as filhas, irmãos com irmãs, avós com netos..., como todos os outros animais...
Os teus olhos estão fixos nas aves que adejam sobre nós, que chilreiam comunicações mimosas, que se batem por um grão de poeira, de sementes trazidas pelo vento e se amam, visivelmente, se amam, a valsa do voo, o encanto, a melodia, a felicidade com que se agitam em volta de nós, dos nossos pensamentos.
Digo-te que o homem está cada vez mais isolado do conjunto. Destruiu uma parte substancial do Planeta e dos seus habitantes selvagens, porque não se deixaram amordaçar ás leis inventadas para amansar o homem. A floresta tem a sua própria lei para crescer e ser a casa de todos, o paraíso dos errantes.
Tu falas-me do mar, de como foi possível, sendo o mar tão vasto, num tão curto espaço de tempo, esgotar recursos pela apanha incontrolada e pelo lixo, desde a ponta de um cigarro ao atómico....destruir habitats, semear tempestades agrestes.
A tua mão e a minha acariciam o chão de barro da falésia, levantam crostas, conchas de moluscos antigos, cavalos marinhos, se cavássemos fundo talvez encontrássemos algum tesouro milenar, é assim o homem na sua ânsia de riqueza, destruir.
Vê o que fazem com a extracção do petróleo, vão cada vez mais longe na via que leva ao centro da terra e as minas!!!!...Na medida exacta em que falham, se esgotam os recursos, inventam ouras formas, antinatura, de gerar mais riqueza, criam regras, leis virtuais que não esperam cumprir. Inventam crises e soluções.
Já viste, disseste, pairam sobre nós, como duendes, zombies, manequins desajeitados, estulta magia, nuvens densas carregadas de amor. De Sudoeste só pode ser tempestade, digo para os teus olhos que me brilham para dentro de mim.
Olhando os céus, tu, o teu sorriso, harmoniosa. Penso, porque te amo tanto? Que força é esta que nos atrai, me suga toda a atenção, todo o meu sentir, me faz querer estar juntinho a ti, aspirar-te no todo, tão feminina, a saia subida deixando ver as pernas belas, os joelhos...
Adoro os teus joelhos, perfeitos , tudo de ti.
Tempestade, tomara que seja de amor, que varra o desespero, o ódio, a indiferença perante a insídia destruidora, que inunde mansamente os focos de pensamentos gelatinosos que resvalam de mentes gratinadas pela ganância dum poder efémero. E eram belos os teus lábios ao moverem-se sem azedume, suave e quente a tua voz, pujante de afirmação nas incertezas
Eu beijo os teus lábios púrpura, húmidos porque te provas, a língua em volta, sorvendo-te dos teus aromas e sabores. O vento ruge na ramaria, verga troncos, quebra ramos infelizes, fracos, a terra ganha cheiros de outros tempos, o mar enegrecido de repente, belo ainda assim, a crescer em empatia com o vento, cristas brancas formam ondas e caem pingos de amor sobre nós escondidos um no outro.
J.R.G.